sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Coisas que só vi em Israel

Cada país tem suas peculiaridades, cada povo tem suas manias e quando chegamos a um lugar novo estranhamos o que não nos é comum, chegamos a achar um absurdo, coisa de gente doida, mas depois de um tempo nos acostumamos, entendemos e às vezes até adquirimos os costumes, adaptamos aos nossos e tudo fica bem.

Quer saber de algumas coisas que "assustaram" os brasileiros que chegaram à Terra Santa (inclusive eu mesma)? Vem comigo!

1. Comer salada no café da manhã - Comem pepino, comem tomate, pimentão, cebola, azeitona. Não são todos nem todos os dias, muita gente só come salada aos finais de semana, quando há mais tempo para preparar, ou quando saem pra tomar café da manhã fora. Aqui em casa nós comemos todo dia - pepino + tomate cereja + pimentão, picadinhos, com sal, azeite e 2 colheres de queijo cottage. Ah, pra constar - come-se pão também e toma-se café, mas esse café é diferente... 

2. Café é Nescafé, com leite (eles chamam carinhosamente de Nes). Tem uns que tomam café turco, ou café "botz" (lama), que é um café não coado, o pó fica no fundo da xícara. Eu particularmente não entendo a graça de sujar os dentes com café, mas muita gente gosta. Café filtrado é extremamente raro, temos algumas marcas nos supermercados, são caras e não têm o mesmo gosto que o nosso cafezinho tem. A gente aqui em casa não abre mão do café de filtro e "importa" por todas as pessoas que chegam do Brasil e se oferecem a trazer algo. 


kumkum
3. Ainda sobre café, todas as casas tem uma chaleira elétrica (kettle em Inglês, kumkum em Hebraico - adoro essa palavra). É só colocar água, apertar um botão e em poucos minutos a água está fervendo para o café, o chá, pra cozinhar o macarrão e etc. Esse é um eletrodoméstico bem comum na Europa, mas no Brasil ainda é pouquíssimo usado. É uma maravilha, ajuda muito. Tem também uma outra "máquina" de água, que nada mais é do que um mega filtro, aperta um botão e sai fria , aperta outro e sai água fervendo pro café (eliminando o uso da kumkum). 



essa é que nós temos. Foi cara, pagamos em muitas prestações,
mas nunca mais precisamos carregar garrafas de água mineral do super

4. O interruptor de luz dos banheiros (e só dos banheiros) fica do lado de fora, tem que acender antes de entrar. Provavelmente deve ser pra evitar problemas da eletricidade em contacto com a umidade. Ainda no assunto banheiro, nas portas há uma um quadrado de vidro, assim quem tá de fora pode ver se o banheiro está ocupado (com a luz acesa) sem que ninguém tenha q gritar "tem geeeente". 



5. E mais sobre os banheiros - nas casas mais antigas e mais simples, não há uma divisão entre a área onde se toma banho e o resto do banheiro. Explico: Não há box (dá pra colocar uma cortininha) e às vezes não há nem um desnível entre a área do chuveiro e a da prvada, espelho, etc. Ou seja, tomou banho, alagou o Oriente Médio. Então nesses banheiros sempre tem um rodo dentro, tomou banho, tem q tirar a água. É irritante, mas olhando pelo lado positivo, tem a vantagem do banheiro estar sempre limpo. 

6. Quer mais sobre banheiros? A descarga tem dois botões - um que solta menos água e outro que solta mais (e ai você saberá qual apertar para cada tipo de "uso"). Além disso, a maioria das pessoas mantémno banheiro um pacote de lenços umedecidos (desses de limpar bumbum de bebê) para uso dos adultos, o que garante uma "refrescância" maior. Recomendado!

 רכב חשמלי קלנועית  קלנוע7. Assim como temos o agalul para transportar crianças (sobre o qual eu contei aqui), temos também as motinhos dos velhinhos, o kalnoit. São motos mais confortáveis, de 1 ou 2 lugares, geralmente são movidas a eletricidade (tem que carregar toda hora) e os velhinhos que têm dificuldades motoras passeiam pela cidade toda com as suas. Eu já até presenciei a cena (fofissima) de um velhinho que pegou a sua gatinha pra dar uma volta na praia. Quer ver mais modelos? Clica aqui

8. Sistema de irrigação - por ser um país de clima desértico, obviamente que tudo é muito seco aqui e estaríamos fadados à fome se não fossem os engenheiros agrícolas espertinhos que desenvolveram sistemas de irrigação modernos e que garantem a água das gramas, das flores e das plantações sem precisar de ninguém regando com mangueira ou regador. Então em praticamente todo prédio, toda praça e todo jardim, tem água saindo pelo solo e muitas vezes em forma de jatos que já me causaram cenas engraçadas (ou nâo) de passar por um prédio, não perceber que o jato estava vindo em minha direção e me molhar toda. 

9. Horários de atendimento - No Brasil os bancos, correios e demais locais de atendimento ao público funcionam de 8 às 4 geralmente, né? Pois por esses lados você sempre tem que checar a que horas o lugar que você precisa ir vai estar aberto naquele dia. Tem dia na semana que eles funcionam direto das 8 às 4, tem dias que funcionam de 8 às 12, fecham e abrem novamente de 4 à 7 da noite, às sextas e véspera de feriado eles fecham mais cedo, e tem dias que não abrem (os bancos não abrem aos domingos, por exemplo). O mesmo vale para os médicos e dentistas. Muitos atendem de manhã, fazem um intervalo e voltam a atender no fim da tarde, começo da noite. É estranho, mas quando você acostuma, percebe que é prático, porque muitas vezes você não precisa perder um dia de trabalho, ou chegar mais tarde, pra poder ir tirar o passaporte, por exemplo. Eu acho inteligente.


10. Além de ônibus e trem, nós temos como meio de transporte público as moniot sherut, um tipo de van (amarela) onde viajam 10 pessoas e o motorista. Como não tem cobrado, o dinheiro é passado de um a um até chegar ao motoca. Te cutucam com a moeda e falam "Efshar le'avir?" ("Pode passar?"). Confesso - Irrita muito! E não, ninguém embolsa a grana não!

Enfim, isso foi o que veio à minha cabeça e a dos companheiros da comunidade Brasileiros em Israel do facebook. Mora aqui e estranhou mais alguma coisa que eu não lembrei? Escreve nos comentários que eu adiciono. 

É claro que temos diferenças alimentares (sobre as quais eu já falei aqui), tem as diferenças religiosas também, mas optei por não entrar nesses detalhes nesse post. Quis escrever sobre coisas cotidianas que me pareceram estranhas mas que, em 7 anos por aqui, acabei assimilando e hoje em dia acabo nem reparando mais. 

sábado, 18 de agosto de 2012

Blogagem Coletiva - Paternidade Ativa em Israel

Domingo passado comemoramos o Dia dos Pais no Brasil. Apesar de não termos essa data em Israel (nem Dia das Mães na verdade, temos um Dia da Família em fevereiro), eu e o Uri fizemos uns agrados pro Ariel, compramos um presente e fizemos um dia especial para ele, como uma homenagem.

Mas a verdade é que presente mesmo ele se dá e recebe todos os dias, desde que o Uri nasceu, em fevereiro de 2011: O direito, o dever, o prazer e a felicidade de ser uma parte ativa na vida e na criação do filho dele.

Eu sempre tive isso muito claro na minha cabeça: Num país onde poucas são as mulheres que não trabalham fora e onde se vive e cria os filhos sem ajuda nenhuma (ainda mais quem, como nós, não tem família aqui), estranho (e injusto) seria se fosse diferente. 


Desde antes de engravidar, quando éramos namorados ou casados-sem-filhos, nós sempre dividimos tudo aqui em casa. Sempre detestei o termo "ajuda", que dá a conotação de que a obrigação mesmo é da mulher e o homem, se faz uma parte, está fazendo um favor e ajudando. Não, pra mim sempre foi muito claro que numa casa com dois adultos, dois trabalham, dois pagam as contas, dois sujam, dois comem, dois bagunçam, dois limpam, dois cozinham, dois arrumam. Assim é justo pra todo mundo. Como não somos robôs, acontece de um ter uma folga e acabar limpando a casa sozinho, ou o outro estar mais cansado e pedir uma folga pra lavar a louça, mas no geral, tudo é feito pelos dois por aqui.

E não podia ser diferente com a criação e os cuidados do nosso filho. Por interesse meu, eu sempre li, perguntei e aprendi muito sobre gestação, parto, bebês, educação, criação. O Ariel tinha menos paciência pra buscar informações na internet, mas mesmo assim sempre conversamos e planejamos muitas coisas juntos. Todos os ultrassons foram marcados em horários que possibilitavam a companhia dele. As compras para o bebê foram feitas juntas, assim como a arrumação do quarto e das coisinhas dele. Naqueles longos noves meses, tivemos tempo suficiente para sonhar, planejar e combinar como seria quando o nosso bebê estivesse aqui. E foi assim que decidimos que a hora do banho seria o momento deles, desde sempre. Que após um dia inteiro com o Uri (quando eu estava em licença maternidade, até os 4 meses e meio dele), seria o meu momento de descansar, tomar um banho sossegada e deixar pai e filho se curtirem e se conhecerem. Assim também com a "mamada dos sonhos", aquela dada antes da gente dormir, com o bebê dormindo. O Ariel, até o Uri completar 1 ano, deu a mamadeira dele, todos os dias, às 11 da noite. Em dias em que ele saía cedo para trabalhar e voltava muito tarde, aquele era um dos seus poucos momentos com o filho. 

Talvez pelo meu interesse e meu preparo, posso dizer que o meu lado mãe nasceu junto com o bebê, ou mesmo antes dele. Tudo parecia natural, parecia tomar o curso certo, mesmo com as dificuldades de um recém nascido em casa. Pro Ariel não foi a mesma coisa, mas com certeza, a vontade dele de acertar, a falta de corpo mole ou de preguiça, fizeram com que ele aprendesse como cuidar do Uri tão bem quanto eu. Passamos a primeira semana do bebê em casa brincando de boneca, conhecendo nosso filho, aprendendo juntos a cuidar daquela criatura tão pequena, os dois juntos, sempre. Enquanto eu amamentava, ele pendurava roupa. Enquanto ele tomava banho, eu esquentava o almoço. Demos os primeiros banhos juntos, mais por curiosidade e emoção minha do que por medo do Ariel não fazer bem. Nos revezamos à noite, nos revezamos nos cuidados durante o dia.


E com o passar do tempo a dedicação e a "parte" do Ariel só foi crescendo e ao longo desses 18 meses do Uri, posso dizer que não há nada que eu faça que o pai dele não possa fazer ou não faça também. Ele leva e pega na creche, conversa com as cuidadoras e dá recados se precisar. Ele prepara comida, alimenta, limpa, dá banho, brinca, distrai, educa. Se preciso for, ele fica em casa cuidando de uma doencinha enquanto eu trabalho, faz inalação e leva no médico se for necessário (Ok, às vezes eu tenho que escrever num papel tudo o que ele precisa falar e perguntar pra pediatra, mas tudo bem...). Ele leva pra passear e me dá umas horas sozinha em casa (apesar de eu preferir fazermos coisas juntos em família, também acho lindo saber que eles estão, juntos, fazendo a história deles e construindo as memórias dos dois).

Houve, e ainda há, momentos de pisadas na bola, de esquecimentos (não do filho, mas do casaco num dia mais frio, da garrafinha d'água), de rateadas... mas tudo isso faz parte do crescimento dos três como família. E tenho certeza de que muito do sucesso disso vem da vontade dele de participar e de aprender e da minha de dar espaço pra eles. 

O Uri é apaixonado pelo papá dele. É lindo vê-lo chegar em casa da creche comigo e procurar pelo pai. É lindo vê-lo sair correndo em direção à entrada da casa quando o pai enfia a chave na porta. É linda a confiança e o amor que eles têm um pelo outro.

E tenho certeza de que se o pai fosse um mero "pagador de babá", as coisas não seriam assim. Fico chocada ainda ao ouvir histórias de amigas (na maioria brasileiras vivendo no Brasil) que não podem sequer tomar um banho em paz porque os maridos não ficam com as crianças "porque não sabem".

Nossa família não é excessão em Israel não. Todos os dias vemos pais levando as crianças nas creches, indo à reuniões nas escolas, levando no médico, brincando nos parques, passeando com bebês novinhos na rua. É tudo tão natural pra gente que acho que hoje em dia estranho pra mim é pensar num pai que não participa ativamente da vida dos filhos, que não é parte integrante do dia-a-dia deles. 

Eu acredito seriamente que todos na família ganham com isso. As mães ficam menos sobrecarregadas, os pais têm o direito de sentir emoções (boas e ruins) que não sentiriam se as coisas fossem diferentes e os filhos têm a oportunidade de aproveitar duas formas de cuidados, de educação, de amor, dois jeitos , duas personalidades diferentes. Recomendo pra todo mundo!!


Quer saber o papel dos pais em outros países? Entra aqui!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"Iguarias" brasileiras em Israel

** editado, inckuindo dicas de outros brasileiros em Israel ** 

Muitos expatriados sentem falta das iguarias brasileiras, reclamam que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá, que aqui não tem requeijão, que têm vontade de pastel, que abacaxi é caro. 

A verdade é que precisamos é parar de reclamar (ou pelo menos reclamar menos). Em primeiro lugar, muitas das coisas "típicas" brasileiras já podem ser encontradas ou adaptadas por aqui. Não temos supermercados brasileiros como os russos têm ou como os brasileiros que vivem em Miami têm, mas... 

Guaraná Antártica tem em todo canto. Uma garrafa de 1,5 litro custa mais do que uma de Coca-Cola (por volta de 11 shekels), mas ainda assim dá pra matar a vontade de vez em quando. Só precisam trazer Guaraná Light também. 

Pão de queijo dá pra fazer com a farinha de tapioca vendida nos mercados de comida oriental (tailandeses, indianos e etc) em Tel Aviv ou ainda na parte de farinhas especiais da rede Teva Market. Tem também pronto e congelado em algumas lojas de sul americanos em Kfar Saba.

No Teva também (adoro esse lugar!) dá pra encontrar feijão preto e carioca (além de feijão branco e muitos outros tipos, até feijão fradinho tem!). Quando eu vou até lá, compro bastante e sempre tenho.

Farofa a gente engana com farinha de rosca. Não fica igual, mas engana.

Strogonoff dá pra fazer com leite de coco (para os que comem kasher) ou com creme de leite de soja (da marca Alpro). Eu só faço com leite de coco e adoro. 


Requeijão tem em mercado árabe e russo. Me indicaram esse dinamarquês e apesar de ser carinho (quase 9 reais um pote), é bem parecido com o brasileiro, um pouco mais salgado. Tem também 
esse queijo de passar no pão da Tara (tem uns também chamados New York que são bons, mas são caros). 

Leite condensado é mais problemático. Dá pra encontrar, geralmente em supermercados de russos (em israelenses também tem, mas a variedade é menor), eu já comprei várias vezes, dá pra fazer sobremesas (como pudim), mas não dá ponto pro brigadeiro. Eu nunca consegui, mas me indicaram o leite condesado russo que tem uma vaquinha no rótulo azul e branco. O nome é algo parecido com MONOKO. Além disso, parece que a dica é acrescentar uma gema de ovo à receita do brigadeiro. 

Já ouvi falar de algumas pessoas que fazem pastel, coxinha e salgadinhos em geral, mas é a velha história... nunca vi, nem comi, só ouço falar que são bons. Muitos brasileiros me indicaram uma moça de Naharya q faz salgadinhos e docinho ótimos (não vou fazer a propaganda porque realmente não comi). Fora isso, a internet tá ai com receita de tudo pra gente testar de casa.

Nas minhas andanças por ai eu já encontrei bolachas e torradas Bauducco e bombom argentino que imita sonho de valsa. 

Maracujá tem plantado aos montes nos prédios do meu bairro. Pelo menos duas vezes por semana enchemos duas sacolas de supermercado, comemos, fazemos suco e congelamos para ter durante o ano. Mamão tem no Teva também (deviam me pagar pela propaganda).

Eu ainda sinto falta de algumas coisas, é verdade. O abacaxi, por exemplo, é muito caro e eu morro de medo de pagar 30 shekels em um (15 reais) e depois descobrir que ele está azedo de arrepiar a alma. 

Outra coisa que eu tenho vontade é pizza no forno a lenha. Não tem, pelo menos eu nunca vi. Já ouvi falar em algumas pizzarias em Tel Aviv (me indicaram a Tony Vespa), mas por enquanto eu me contento com as pizzas do meu marido (que é padeiro) que são muito boas. 

Não temos pão francês (pelo menos na minha opinião, baguete não é pão francês!), mas temos chalá no Shabbat (ou a semana inteira pra quem quiser) que fazem a alegria da minha semana. Eu AMO chalá doce com requeijão ou manteiga. 

Fora isso, acho que faz parte do processo de adaptação ao país e à cultura nova conhecer pratos e ingredientes novos, não ficar só reclamando do que não tem, mas adaptar o que dá e incorporar outros sabores à nossa mesa. Outro dia eu falei do silan, num próximo post eu falarei da tchina, ou tahine, como é conhecido o molho de gergelim por aí..

(Se você é brasileiro, vive em Israel e tem dicas e soluções pras nossas vontades e saudades, coloca aqui nos comentários que eu atualizo o post depois)





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Pediatria em Israel

Esse aqui é mais um post que foi publicado no Nosso Grãozinho de Bico em uma das Blogagens Coletivas e agora vai ser adaptado e atualizado aqui. 


Aqui em Israel, não existe a hipótese de você marcar um pediatra antes do bebê nascer, como acontece no Brasil, pra pedir orientações. Primeiro q vc não vai conseguir, pq os planos de saúde vão pedir pra vc dar o nome do bebê (e o número do RG) na hora da consulta, e segundo pq mesmo q vc conseguisse, ia chegar no pediatra sem o bebê, pedindo orientação e ele ia rir da tua cara. Israelense é prático, não tem paciência, gosta de fatos e não de suposições. 


Quando fomos liberados da maternidade, nos pediram pra marcar uma consulta com o pediatra quando o Uri tivesse 10 dias. Foi nossa 1a saída de casa, eu e ele. A consulta era às 8 da manhã, cedo assim porque pedem pra você avisar quando for marcar q é um recém nascido, assim eles te dão a primeira consulta, pra evitar q o bebê fique exposto à crianças doentes na recepção. Logo cedinho, não tem espera, o ar está mais limpo e livre de doenças, e a clínica mais vazia. Acho legal e inteligente. 

Mamãe registra tudo - a 1a ida ao pediatra
(e a 1a saída de casa) - foi uma emoção!
Foi uma operação de guerra e tanto conseguir chegar às 8 horas com ele lá na clínica, eu já tinha deixado a bolsa dele preparada na noite anterior, massacumé, mãe recém parida, perdida de tudo, recém nascido sem horários, enfim, acho q eu levantei umas 5 da manhã pra dar conta de prepará-lo, tomar café,me arrumar, sair e chegar no horário (e a clínica fica a 10 minutos andando daqui). 

Ai chegamos lá, a doutora (eu marquei qualquer um q atendia no dia, não fazia diferença pois não conhecia nenhum) me pergunta como foi o parto, com quantos kilos ele nasceu, quanto mediu, se eu amamentava, bla bla bla, e ia anotando no computer, fazendo uma espécie de ficha pra ele. Depois, olhou pra mim e perguntou se eu queria q ela o examinasse ou se tínhamos acabado por ali mesmo. Como assim, dotôra? Claro q eu queria q ela examinasse!!! Aí ela pediu pra eu tirar a roupinha (as 12 camadas de roupinha q a mãe pôs no RN q saía pela 1a vez de casa, no inverno) e mal olhou na cara dele (como pôde? Tão lindo! rsrs). Virou ele pra lá e pra cá, examinou tudo, pesou, mediu, viu os reflexos e só. "Pode vestí-lo". Depois de uns 15 minutos pra vestir o pequenininho, eu pergunto com qual frequência devemos visitá-la (pensando q eu tava no Brasil) e ela responde "Espero q nunca. Você não precisa vir se ele estiver bem, só se estiver doente e espero q ele nunca fique". OK, eu também. Achei q a médica poderia ter sido mais atenciosa, procurei outros médicos nas vezes em q o Uri ficou doente, mas acabei voltando várias vezes nela porque ela atende por mais tempo e em horários mais convenientes pra mim. Com o passar do tempo eu passei a gostar mais dela, que é sim super prática, não fica procurando outros problemas, responde o q a gente pergunta, mas é carinhosa com ele (mais do q na primeira consulta) e se interessa mais. Vai ver q ela acha recém nascidos sem graça e prefere um bebê maior q já puxe o estetoscópio e o cabelo dela. 



Isso é a cultura daqui, os pediatras não estão ai para fazer a médicina preventiva, eles cuidam de quem está doente. Quem checa o peso, a altura, o desenvolvimento e dá as vacinas é um centro comunitário chamado, em hebraico Tipat Chalav - Gotinha de Leite. 


Eu vou nesse Tipat Chalav desde a gravidez. Quando eu estava grávida era pra pesar, medir pressão, glicose na urina, checar se eu fiz todos os exames, mandar eu pedir pro médico algum q faltasse, anotar tudo na caderneta de gestante, etc. Ela havia me pedido para avisá-la quando o Uri nascesse, e assim eu fiz. Na verdade demorou mais de 10 dias pra eu conseguir falar com ela, mas logo em seguida ela marcou uma consulta e lá fomos nós.


A enfermeira, a mesma de quando eu estava grávida, se chama Tamar e eu não sou muito chegada nela não. Ela tem bafo. Tá rindo? Chega perto dela. Até o Uri, o garoto-sorriso, não é muito fã dela também (certeza q  é por causa do bafo). Mas, tirando a halitose dela, ela faz a sua parte. A gente ia lá a cada 10 dias no primeiro mês, depois fomos aos 2, 3, 4 e 6 meses e agora só quando tiver vacina. Lá ele toma as vacinas, é pesado, medido, tem o desenvolvimento checado, o q eu acho meio q um erro, já q cada criança se desenvolve a seu ritmo e não é num ambiente artificial, com alguém com bafo de bode, depois de tomar vacina, de ser despido e pesado e esticado, q o Uri é o mesmo Uri e faz as mesmas coisas q ele faz em casa. Mas enfim, só uma vez ela cismou q ele deveria sustentar a cabeça qdo de bruços (com 2 meses) e quis q eu voltasse lá antes do tempo (prova de recuperação!), mas depois dessa ela sempre se surpreende e diz q ele está avançado pra idade dele. Por outro lado, se alguma criança tem alguma limitação séria é até bom q ela o avalie e encaminhe pra um acompanhamento mais especializado. Alguém tem q fazer, né? Se o médico não acompanha, a bafuda tá ai pra isso. Tá, retiro o q eu disse sobre não servir pra nada ficar vendo o desenvolvimento.  Além disso, ela veio uma vez aqui em casa quando ele tinha uns 3 meses, para "checar" se o bebê vivia em boas condições. Pode ser visto como invasão de privacidade, mas eu não me incomodei tanto assim, é uma forma do país se interessar pelos bebês, dar apoio, dar orientações. 


Eu até acho legal ele tomar vacina e fazer o acompanhamento nesse centro, porque é um lugar super limpinho e arrumado, e as crianças q vão lá estão saudáveis (pra tomar vacina não pode estar doente, né?). Acho mais legal do q ficar indo nas clínicas do convênio, já q cada convênio tem sua clínica e pode acontecer de todas as especialidades estarem no mesmo lugar e você ficar na sala de espera com o teu bebê e não só deixá-lo exposto às doenças ds outros bebês doentes, quanto dos adultos e velhinhos tossindo, espirrando e vai-lá saber o q mais perto dele. 


Aqui o sistema de saúde é semi-público. Difícil explicar, mas funciona mais ou menos assim: Governo paga uma parte, o teu trabalho outra, e você outra, de acordo com o q vc ganha. Isso pro serviço básico, mas vc pode ter uns planos especiais (em média uns 15 a 20 dólares por mês, por pessoa), q te dá desconto em remédio (e o desconto é ótimo  na maioria dos remédios), exames de graça e otras cositas más. Consultas com pediatra, clínico geral e ginecologista você não paga nada, e com especialistas você pode pagar uns 7 reais a consulta. 

Não existe ligar pro médico no meio da noite, porque aliás, nem médico pra chamar de nosso a gente tem (tirando gine e clínico geral). Passou mal de madrugada? Vai pro PS (ou chama médico em casa, pagando 35 reais a visita).  Se eu sinto falta de pediatras como no Brasil? Sim e não. Talvez eu sinta falta de uma consulta um pouco mais detalhada, mais explicações, principalmente quando o Uri era menor. Por outro lado, o sistema daqui funciona e é justo para todos. Não acho justo pagar um absurdo de convênio sendo q já pagamos tantos impostos, gosto de saber q todos no país estão usufruindo de uma saúde de qualidade e digna. Não sou do tipo de pessoa que ligaria pro pediatra de madrugada por uma febre, então essas coisas não me fazem falta não.